Para se manterem competitivas face às turbulências econômicas e ao incremento da competitividade, as organizações estão deixando de lado a estrutura tradicional, na qual os colaboradores construíam suas carreiras verticais, dentro da própria empresa, durante muitos anos. E adotam um modelo mais flexível, que incorpora as mudanças tecnológicas e diminui suas estruturas, por meio do enxugamento de níveis hierárquicos da pirâmide organizacional, operacionalizados, usualmente, por meio da terceirização e/ou subcontratação de cargos não centrais para a empresa.
A busca por flexibilidade abre espaço para o surgimento de uma nova tendência no ramo das carreiras – as carreiras sem fronteiras. Mas o que são e quais seus impactos futuros?
De acordo com Michael Arthur, criador do conceito, as carreiras sem fronteiras podem ser definidas como uma “sequência de oportunidades de trabalho que ultrapassa as fronteiras de uma única organização” (DeFILLIPPI; ARTHUR, 1994, p. 116). O autor reitera, ainda, que “uma carreira sem fronteira não é uma única forma de carreira, mas uma gama de possibilidades que ‘desafia as suposições de emprego tradicional’” (ARTHUR; ROUSSEAU, 1996, p. 3). De acordo com esta definição pode-se pegar inúmeros conceitos como, as mudanças estruturais das empresas, conforme citado acima, e as instabilidades atuais geradas pelas mudanças econômicas e tecnológicas.
Esses tipos de carreira estão associadas com a globalização atrelada às inovações tecnológicas e comunicacionais, que encurtaram as barreiras físicas e temporais. Associam-se igualmente a uma mudança no mindset individual, responsável por diminuir ou superar certas barreiras psicológicas como, por exemplo, a necessidade de possuir um emprego de longo prazo, ou vitalício, com progressão por tempo de serviço.
A tendência das carreiras sem fronteiras também é corroborada por um estudo dirigido pela World Economic Forum, chamado “Relatório do futuro dos empregos de 2018”, o qual aponta que uma pessoa deterá, em média, cinco carreiras ao longo da sua vida, sequencial ou simultaneamente.
Diante desse novo cenário, os profissionais do futuro precisarão estar em constante evolução e estudo para conseguirem acompanhar tais mudanças, que já vem acontecendo em uma velocidade surpreendente. Tal como disse o futurista Alvim Toffler: “Os analfabetos do próximo século não são aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusam a aprender, reaprender e voltar a aprender.” Evidencia-se, desse modo, a necessidade de as pessoas desenvolverem múltiplas competências, com vistas a se manterem atualizados no mercado e, portanto, empregáveis
Em síntese, as evoluções tecnológicas, ao comprimirem o tempo e o espaço, viabilizaram a realização de tarefas e a conexão de pessoas, a uma velocidade nunca vista. Consequentemente, as empresas estão adotando uma estrutura cada vez mais flexível para poderem se manter competitivas nesse mercado turbulento e acompanharem tais mudanças. E, para que isso se concretize, novas modalidades de carreira emergiram, a exemplo das carreiras sem fronteiras, centrada na superação ou rompimento de barreiras tanto físicas quanto psicológicas, que possibilitam a aceitação dos colaboradores a esse novo lifestyle subjacente a esse tipo de carreira, que remete a um sujeito autônomo, propenso ao risco, em busca da realização pessoal e profissional.
Por Julia Godoy, graduanda em Administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas e Consultora na Consultoria RH Junior, mentorada pelo Professor Filipe Augusto Silveira de Souza, que possui seus estudos concentrados na área de Administração Geral e RH.
Referências:
Arthur,M.B.andRousseau,D.M.(1996)‘Introduction: The Boundaryless Career as a New Employment Principle’, in M. B. Arthur and D. M. Rousseau (eds), TheBoundarylessCareer.NY:OxfordUniversityPress. pp. 3–20.
Greenhaus, Callanan, & Direnzo, 2008; “A boundaryless perspective on careers”
John Boudreau, 2016. “Work in the future will fall into these 4 categories”. Harvard Business Review.
http://career.iresearchnet.com/career-development/boundaryless-career/
http://www.scielo.br/pdf/pcp/v38n1/1414-9893-pcp-38-01-0129.pdf