Introdução
A partir do momento em que a mulher se entende como gente, ela se depara com diversas barreiras criadas pela sociedade patriarcal. Estes obstáculos dificultam ainda mais o caminho a ser percorrido para se alcançar um objetivo pessoal ou profissional. Desde o início da humanidade até meados do século XX, a mulher foi submissa ao homem, sendo a única responsável por obrigações domésticas, como limpar a casa, lavar roupas, fazer comida e cuidar das crianças. Dessa forma, a figura feminina era totalmente excluída do mundo social, do direito à educação e ao trabalho. Esse tipo de situação apoia-se no estigma de masculinidade para os homens, vistos como fortes, corajosos, poderosos e autoritários e de submissão para as mulheres.
Contextualização
Após o início da Primeira Guerra Mundial, algumas mulheres tiveram acesso ao mercado de trabalho. Isso aconteceu por conta da ausência dos maridos e pela necessidade de manter suas famílias e negócios. Logo após, com o início do Capitalismo, e consequentemente com o desenvolvimento tecnológico, as mulheres conquistaram a oportunidade de irem para dentro de fábricas. Este fator fez com que os direitos femininos aumentassem um pouco. No entanto, observa-se ainda um alto índice de desigualdade de gênero na sociedade, principalmente no âmbito do trabalho, visto que, em pleno século XXI, o salário da mulher é menor do que o de um homem, mesmo dentro de um mesmo cargo, realizando o mesmo trabalho.
Segundo a pesquisa “Mulheres e o mercado de trabalho: os desafios da igualdade”, realizada por Susana Ayarza, em 2018, as mulheres são a maioria no Brasil e ocupam cerca de 44% das vagas de emprego do país. Entretanto, ao analisar a porcentagem de mulheres em posições de liderança, esse número cai para 2,8% de ocupação dos cargos mais altos de organizações. Não só isso, devemos analisar também a equiparação salarial, que ainda está longe de acontecer no nosso país. Segundo Susana, as mulheres, ocupando os mesmos cargos que os homens, recebem cerca de 74,5% do salário deles.
Situação atual nas empresas
Por influência de uma sociedade culturalmente machista, as mulheres possuem dificuldade de adquirirem a confiança de seus colegas de trabalho dentro de organizações. Isto acontece, porque a figura feminina é constantemente tachada como menos experiente e fraca. Além disso, é considerada muitas vezes, incapaz de atingir um alto patamar na empresa. Uma pesquisa realizada pelo G1, “Mulheres na Liderança: as barreiras que ainda prejudicam a ascensão feminina no mercado de trabalho”, em 2019, mostrou que 31% dos homens têm resistência à liderança feminina, não respeitando e/ou obedecendo às decisões impostas por ela, apresentando algum tipo de incômodo ao serem representados por uma mulher.
Ascensão nas organizações
As mulheres são constantemente pressionadas a escolherem entre a vida pessoal e profissional. Isso acontece, pois a grande maioria das empresas optam por não lidar com a possibilidade de terem uma líder que pode optar pela maternidade. E qual seria o problema de optar por, em determinado momento, ter um filho? Pois bem. As empresas acreditam que as mulheres não conseguiriam dar conta das duas jornadas de trabalho ao mesmo tempo. Ademais, as organizações que não querem ser deixadas como segunda opção, decidem não proporcionar o cargo. Como se já não bastasse, as mulheres, ao atingirem um alto cargo de liderança, têm de lidar com homens que não as respeitam, e que passam por cima de suas decisões. Logo, o cenário é de extrema dificuldade, uma vez que as líderes precisam conquistar a confiança dos homens para conseguirem trabalhar em um ambiente com um clima organizacional minimamente agradável.
Ademais, outro fator que impede a ascensão de mulheres em cargos mais altos é a autoconfiança. Isso porque as mulheres são continuamente comparadas aos homens e desvalorizadas pela sociedade como um todo, elas tendem a ter sua autoestima diminuída. Logo, possuem dificuldade de confiar o suficiente no seu trabalho, podendo por exemplo não se candidatar para uma vaga de CEO por um julgamento inválido de insuficiência. Sem contar que, o salário desigual para uma mesma posição, faz com que muitas mulheres se sintam desmotivadas para avançar de nível.
Por que ter mulheres em altos cargos
A reportagem realizada pelo G1, citada acima, comprova que, lideranças femininas influenciam outras mulheres a avançarem na carreira. Em uma entrevista com Carolina Oliveira, diretora de Marketing da Grant Thornton, foi mencionado como o exemplo feminino é importante para incentivar a ascensão de mulheres a cargos de liderança, visto que, como chefes, elas tendem a valorizar o trabalho feminino, e dão mais importância para oportunidades de crescimento. Ainda, lideranças femininas tendem a estabelecer uma igualdade de gênero dentro da empresa, optando por uma liderança horizontal. Este tipo de liderança aposta em empatia e flexibilidade, promovendo ações corporativas de empoderamento. Outrossim, mulheres na liderança tendem a buscar um ambiente mais harmônico e menos conflituoso, permitindo um espaço livre para a participação de toda a equipe organizacional nas decisões.
Conclusão
Conclui-se que, as organizações, devem seguir o caminho do abandono da cultura tradicional, na qual somente os homens podem alcançar altos espaços de poder. O olhar para a mulher como uma oportunidade de crescimento e como um ser de alto potencial, pode quebrar as barreiras existentes e enraizadas que as impedem de ascenderem na carreira. Dessa forma, buscar enxergar a mulher como igual, não como inferior, capaz de realizar as mesmas funções e cargos, pois, no final das contas, o gênero não mede a capacidade de ninguém.
Por Maria Clara San Martin Lourenço, graduanda em Psicologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie e Trainee na Consultoria RH Junior