No segundo trimestre de 2025, o Itaú Unibanco registrou um lucro líquido de R$ 11,5 bilhões, 14,3% maior do que no mesmo período do ano anterior. Poucas semanas depois, a instituição anunciou o desligamento de cerca de mil funcionários, sob a justificativa de “baixa produtividade”.
E aí surge a pergunta que incomoda: como uma empresa que bate recordes de lucro pode, ao mesmo tempo, justificar cortes tão expressivos por improdutividade?
O PROBLEMA ESTÁ NAS PESSOAS OU NO MÉTODO?
Esse fenômeno levanta uma reflexão importante: será que o problema está realmente nas pessoas ou na forma como a produtividade é medida e gerida?
Recentemente, a imprensa tem noticiado em massa o layoff do Itaú, com mais de mil colaboradores desligados sob a justificativa de “baixa produtividade”. No entanto, a performance não pode ser reduzida a números frios em planilhas. Afinal, produtividade é resultado de clareza de metas, qualidade da liderança, engajamento e suporte organizacional.
Portanto, quando falamos em uma expressiva quantidade de desligamentos, o que se evidencia não é apenas uma falha individual, mas também sistêmica, que poderia ser enfrentada com melhores práticas de gestão de pessoas e planejamento estratégico.
O PESO DO MONITORAMENTO DIGITAL
Ao observar mais de perto a estrutura utilizada pelo Itaú, percebe-se que a avaliação de produtividade esteve fortemente atrelada ao monitoramento digital das atividades dos colaboradores em regime de home office. Relatos de funcionários apontaram que, muitas vezes, os critérios se basearam em métricas como quantidade de cliques, tempo de login e movimentação do mouse.
Em um contexto em que quase 40% da força de trabalho do setor financeiro já atua em modelo remoto ou híbrido (Censo Febraban 2024), tais métodos levantam dúvidas: até que ponto essas métricas refletem, de fato, a entrega de valor do profissional?
Segundo reportagem do G1, softwares de monitoramento podem registrar até 1.000 pontos de interação digital por dia, por colaborador, entre cliques, digitação e uso de aplicativos. No entanto, dados da Gallup (2023) revelam que apenas 20% dos trabalhadores no mundo se dizem realmente engajados em suas funções. Isso indica que o problema vai além da atividade digital — ou seja, o desafio não está apenas em medir atividade, mas em estimular significado e propósito.
Perguntas que ficam:
1. Você confiaria em um modelo de gestão que mede sua entrega pelo número de movimentos do mouse?
2. Essas métricas realmente refletem valor gerado para clientes e para o negócio?
3. Haveria caminhos menos invasivos e mais eficazes de garantir resultados?
UM FENÔMENO GLOBAL
Esse não é um caso isolado. Em 2023 e 2024, empresas de tecnologia como Meta, Google e Amazon realizaram cortes que somaram mais de 50 mil demissões globalmente, em muitos casos atribuídas à “baixa performance” e à realocação de prioridades.
O episódio do Itaú, portanto, insere o Brasil em uma tendência global de questionar como a produtividade é medida — e se desligamentos em massa são realmente a resposta mais eficiente para problemas estruturais.
CAMINHOS PARA UMA GESTÃO MAIS HUMANA E ESTRATÉGICA
Ferramentas já conhecidas em Recursos Humanos poderiam ter ajudado a prevenir esse cenário:
• Pesquisas de clima e engajamento, para medir insatisfações antes que se tornem rupturas.
• Avaliações de desempenho 360º, para dar visão mais justa do trabalho.
• Planos de carreira estruturados, para alinhar expectativas de crescimento.
• Feedback contínuo, como prática de liderança, e não apenas como discurso.
Em vez de colecionar prints de telas, empresas precisam colecionar histórias de crescimento. Afinal, a produtividade verdadeira surge quando tecnologia, estratégia e humanidade caminham juntas.
CONCLUSÃO
O desligamento em massa do Itaú, estimado em cerca de mil funcionários em setembro de 2025, representa não apenas um movimento de reestruturação, mas também um sinal de alerta sobre como organizações estão medindo e interpretando produtividade.
O uso de métricas digitais, embora útil em determinados contextos, não pode se tornar a única régua de avaliação, sob o risco de gerar injustiças, perda de talentos estratégicos e um clima de insegurança. Além disso, processos estruturados ajudam a prevenir cenários de rupturas bruscas, fortalecendo a cultura organizacional e a retenção dos colaboradores.
Afinal, a produtividade verdadeira nasce do equilíbrio entre tecnologia, estratégia e humanidade.