Potencializando o Engajamento

Introdução

O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) é um dos meios utilizados pelo Ministério da Educação (MEC) na avaliação da qualidade das instituições de ensino superior do Brasil. Essa prova busca avaliar o rendimento dos alunos do último ano de suas graduações e, em sua edição de 2012, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) obteve um resultado insatisfatório.

Após posicionar-se no ranking geral abaixo de seus concorrentes e de suas conveniadas, a diretoria da EAESP concluiu que o resultado medíocre não era condizente com a qualidade de seus alunos e que, se isso permanecesse constante, poderia prejudicar a reputação da escola a longo prazo. Assim, o projeto realizado por meio da parceria entre três empresas juniores da FGV-SP – Empresa Júnior FGV, Consultoria Júnior Pública e RH Junior Consultoria – visou identificar as razões do desempenho preocupante da escola no exame; bem como buscou entender a percepção de seus alunos com relação ao assunto, para formular planos de ação que revertessem esse quadro.

O objetivo do projeto, então, era aumentar a motivação e o engajamento dos estudantes da FGV a prestarem a próxima prova, que ocorreria em 22 de novembro de 2015, e auxiliá-los a obterem um resultado melhor.

Desenvolvimento

O projeto de escopo mercadológico foi dividido em etapas, as quais se concretizaram por meio da imersão da EAESP no contexto descrito, de duas pesquisas – uma qualitativa e outra quantitativa -, da clusterização e, ao fim, da elaboração dos planos de ação.

Primeira parte do projeto: imersão da FGV-EAESP no contexto

A etapa de imersão teve como intuito entender a dinâmica do exame e quais as suas implicações – tanto para a escola, quanto para seus alunos. Em relação ao exame de 2012, o dado mais relevante é a posição insatisfatória da escola no ranking (201°).

Após a pesquisa dessas informações, a equipe do projeto procurou entender a percepção dos alunos da instituição sobre o assunto, por meio de publicações nas mídias sociais. Essa análise mostrou que havia uma divisão clara entre alunos que consideravam significante a nota do Enade para a imagem da escola e outros que a julgavam irrelevante, por acreditarem que os resultados desse exame não teriam impactos negativos no mercado de trabalho. Além disso, apontaram que a coordenação era distante dos alunos durante toda a graduação, aproximando-se somente quando surgia um assunto de seu interesse e, assim, tornava a relação superficial. Essa foi considerada uma das causas de desmotivação e de insatisfação por parte de uma parcela de estudantes, durante o fim do curso.

Segunda parte do projeto: pesquisa qualitativa

Na pesquisa qualitativa, houve uma coleta grande de informações para entender a visão do público-alvo em relação a aspectos, como: reputação da FGV, relacionamento com a EAESP, prova do Enade e motivações pessoais relacionadas ao teste. Foi aplicada com base em uma abordagem direta, por meio de um focus group com seis participantes e de quarenta e sete entrevistas em profundidade. Para a implementação desses dois mecanismos, foi necessária a elaboração de roteiros – validados por um professor do departamento MCD da FGV-EAESP, que serviram para conduzir as pesquisas.

Descobriu-se que parcela dos entrevistados tinha a impressão de que a fundação prezava muito pela marca e, às vezes, deixava de focar em problemas internos. Alunos do curso de Administração de Empresas mostraram-se insatisfeitos com a coordenação de seu curso, considerada ausente, distante, pouco aberta a feedbacks e a mudanças. Outras razões para a insatisfação foram a falta de informação e os métodos de cobrança da faculdade, similares ao modelo estipulado em escolas, inibindo um sentimento de independência na universidade. Quanto ao Enade, os alunos desconheciam as informações mais específicas acerca do próximo exame a ser aplicado, como seu funcionamento e sua importância.

Assim, foi identificada a origem dos diversos descontentamentos que culminaram com a desmotivação e com a falta de engajamento dos alunos diante da FGV-EAESP – e que poderiam estar atrelados ao desempenho insatisfatório dos universitários no exame de 2012.

Terceira parte do projeto: pesquisa quantitativa

O objetivo dessa etapa foi comprovar ou desconsiderar os outputs obtidos na fase anterior, fim de direcionar os planos de ação. A pesquisa quantitativa foi realizada por meio de um questionário que continha um conjunto específico de perguntas, cuja estruturação ocorreu na plataforma online Typeform e cuja disponibilização aos alunos aconteceu via rede social.

Com as respostas obtidas, um diagnóstico descritivo foi realizado, e pode-se depreender que, não somente a maioria dos respondentes possuía esse sentimento de falta de vínculo com a FGV, bem como sua incidência era maior conforme os alunos de Administração de Empresas se aproximavam do fim da graduação.

Sobre a motivação dos alunos com as atividades extracurriculares, concluiu-se que a maioria não estava motivada. As razões para tal desmotivação deram-se em função de questões naturais do ciclo acadêmico – como estágio e processos seletivos – e da insatisfação com a instituição de ensino. Também pôde-se analisar que havia uma forte relação entre a desmotivação dos estudantes e a insatisfação deles com a FGV.

A maioria dos entrevistados concordou que a imagem de sua instituição é importante na inserção no mercado de trabalho. Apesar de a FGV-EAESP ter obtido resultado insatisfatório no exame de 2012, os entrevistados acreditavam que uma boa colocação seria importante para a instituição de ensino. Todavia, a maioria dos respondentes não acreditava que o Enade fosse importante no âmbito pessoal. Essas respostas comprovaram os dados obtidos na fase anterior e enfatizaram a necessidade de mostrar o impacto positivo dessa prova aos alunos.

Em relação ao exame, o ranking era pouco conhecido entre mais de 60% dos respondentes. Assim, se concluiu que o nível de informação que a escola transmitia aos universitários sobre o Enade era muito baixo. Esse fato mostrou-se bastante preocupante, uma vez que, com o baixo nível de informação, tornava-se difícil eles entenderem a importância desse exame. Por fim, foi questionado o nível de comprometimento dos estudantes dos sétimo e oitavo semestres com a prova, demonstrando a existência de alunos descomprometidos e comprometidos. Devido a esse fato, a equipe relacionou o comprometimento a outros fatores, como motivação, senso de pertencimento e insatisfação com a instituição. Esses  resultados demonstram que há uma relação significativa entre o comprometimento com a prova e a insatisfação dos alunos com a FGV – ou seja, os insatisfeitos com a escola aparentavam não estarem envolvidos com o exame.

Ao fim, foi questionado se os estudantes eram favoráveis às políticas de incentivo e à bonificação, em que a maioria mostrou-se bastante apoiadora. Devido à cultura dos alunos da FGV, que é caracterizada por mover os estudantes por meio de benefícios imediatos, a implantação de políticas de incentivos seria viável. Em contraste, uma minoria citou ser antiético bonificar os alunos em função de seu rendimento em uma prova externa.

Quarta parte do projeto: clusterização

Com o objetivo de verificar se os planos de ação propostos estariam coerentes com a maior parte dos perfis de alunos, os quais foram identificados nas pesquisas, a equipe utilizou a construção de personas como método de clusterização. Essa metodologia consiste na criação de indivíduos fictícios, cuja especificação de características permite contextualizar os atributos de determinados grupos.

Primeiramente, foram analisados os insumos das pesquisas qualitativa e quantitativa, a fim de se identificar classificações expressivas que permitiriam a separação de grupos. Diante disso, os estudantes foram clusterizados de acordo com sua motivação e satisfação com a escola: motivado, desmotivado, satisfeito e insatisfeito. Após a definição desses quatro perfis, também foram elaboradas outras quatro personas: desmotivada e insatisfeita com a FGV, desmotivada e satisfeita com a FGV, motivada e insatisfeita com a FGV e motivada e satisfeita com a FGV.

Em relação ao grupo “motivados e satisfeitos”, pode-se considerar uma “persona sonho”, visto que esse seria o perfil ideal para alcançar o maior comprometimento com a prova do Enade. No entanto, com os insumos obtidos nas pesquisas, analisou-se que o número de alunos com essa descrição, no último ano de graduação, era praticamente nulo. Assim, foi necessário adequar as características dos demais alunos para maior efetividade dos planos de ação, isso é, incitar os traços da “persona sonho” nos outros perfis.

Planos de Ação

A última fase se fundamenta em propor planos ação, tendo em vista os problemas detectados. As principais metodologias utilizadas nesse processo foram 5W2H e matriz de probabilidade e impacto. A primeira serviu para organizar como os planos de ação seriam implementados e a segunda foi responsável por analisar os riscos das propostas.

Primeiramente, foi estabelecido um cronograma para o segundo semestre de 2015, com o objetivo de ordenar as medidas a serem tomadas nesse período. Para isso, foi analisado o calendário oficial da FGV-EAESP, levando-se em conta datas comemorativas e feriados, que poderiam impactar o desempenho dos alunos na prova do Enade. Paralelamente, foi criado um plano de comunicação, com o de intuito auxiliar a coordenação da escola a transmitir mensagens e informações relacionadas ao exame. Dessa forma, a comunicação entre a EAESP e seus alunos se tornaria mais prática e eficiente. Além disso, foi recomendado que a FGV divulgasse para toda sua comunidade a ocorrência da prova.

A fim de se motivar os alunos, a equipe sugeriu que fosse incentivado o senso de pertencimento atrelado ao sentimento de time, ou seja, o fomento da união e da representatividade daqueles que prestariam esse exame. Sendo assim, sugeriu-se que a coordenação organizasse uma cerimônia, de caráter motivacional, com a presença do diretor da graduação e de um ex-aluno bem sucedido atualmente. Outra medida que a coordenação poderia adotar seria a criação da marca Enade, com uma campanha voltada para esse tema, valendo-se de frases como #ENADE2015 e #OrgulhoFGV; desse modo, incitando lembranças recorrentes acerca da prova.

Ainda no sentido de fortalecer o sentimento de time, a equipe propôs que, no dia da prova, houvesse uma tenda suporte, espécie de ponto de encontro dos “GVnianos” no qual seria distribuído o “Kit Enade”. Esse kit seria composto por materiais necessários para a realização da prova, como barrinha de cereal, caneta, garrafa d’água – todos personalizados com a marca Enade. Durante as pesquisas iniciais, foi mencionado que os locais da prova eram muito distantes e de difícil acesso. Logo, a equipe sugeriu que a coordenação disponibilizasse transporte aos alunos no dia da prova. Os custos dessas duas propostas foram estimados e apresentados ao cliente.

Finalmente, outro tema relevante foi a cultura de valorização do individualismo presente na instituição, em que a nota do aluno é priorizada em muitos momentos da graduação – a exemplo de intercâmbio, possibilidade de modificação nos horários das aulas e colocação em quadro de honra. Uma parcela não concorda com essa cultura e, portanto, o grupo criou políticas de benefícios individuais e coletivos. A proposta era que esses benefícios fossem aplicados caso mais de 70% dos estudantes do último ano de graduação da FGV-EAESP participassem e se a média de acertos fosse igual a 28 testes. Em relação aos individuais, sugeriu-se a bonificação por nota por meio do desempenho (mínimo de 28 testes) e de cursos extracurriculares para os três alunos com melhores resultados. Sobre os benefícios coletivos, poderia ser organizado um churrasco de comemoração e haver contribuição nas formaturas das turmas, caso a nota da FGV-EAESP fosse satisfatória no resultado final.

Conclusão

O objetivo do projeto era aumentar a motivação dos alunos da FGV-EAESP diante da realização da do Enade. A equipe então pesquisou sobre o contexto do exame e analisou as opiniões dos estudantes da Fundação Getulio Vargas, com relação à prova de 2012.

As pesquisas apontaram que o relacionamento entre instituição e alunos era um dos fatores responsáveis pelo resultado insatisfatório, uma vez que a coordenação era muito distante dos alunos durante toda a graduação e que se aproximava deles somente quando surgia um assunto de seu interesse, tornando a relação superficial. Porém, o contra-argumento abordou o descaso e o descomprometimento dos alunos da EAESP diante da prova, uma vez que o senso de pertencimento dos alunos à instituição não era estimulado dentro da faculdade.

Com a imersão ao contexto Enade e com as pesquisas qualitativa e quantitativa, percebeu-se que o principal fator que afetava a motivação dos alunos na realização desse exame era a insatisfação com a FGV, o que ocasionou um desempenho aquém do desejado. Essa insatisfação era muito presente nos alunos de Administração de Empresas; os estudantes de Administração Pública alegaram terem suas demandas ouvidas e consideradas pela coordenação do curso.

Portanto, com a adoção dos planos de ação, a equipe acreditou que essas políticas impactariam nos diversos perfis de estudantes da FGV, acarretando sua motivação, no que diz respeito à prova do Enade. Assim sendo, com essas iniciativas consolidadas, seria viável alcançar o objetivo principal do projeto: obter uma nota que compreendesse o nível máximo de avaliação, cujo resultado seria divulgado no ano seguinte àquele de realização da prova.