Com uma conquista vagarosa de direitos femininos – o direito ao voto no Brasil, por exemplo, foi alcançado há menos de um século, em 1932 – é visível a diferença entre os papéis sociais de mulheres e homens, principalmente nos âmbitos familiar e profissional. Se nasce mulher, a socialização feminina impõe a ela que, no seu futuro, a família será colocada à frente do trabalho; se nasce homem, a sociedade lhe diz justamente o contrário. E quando a mulher foge de tal imposição, além de ser julgada, é mal remunerada.
Como uma forma de conciliar expectativas sociais e sonhos profissionais, muitas mulheres optam por enfrentar uma tripla jornada de trabalho – que inclui a sua carreira e cuidados com a casa e a família. Entretanto, acabam recebendo um salário mais baixo do que o de seu companheiro ou colegas de trabalho com a mesma idade e nível de instrução.
Segundo a pesquisa Estatísticas de Gênero 2014, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2000 e 2010 a diferença salarial se tornou menos acentuada, com o aumento do rendimento feminino em 12%, enquanto o masculino foi de 7,9%. Porém, as mulheres recebem apenas 67,7% do salário dos homens. A disparidade diminui nas regiões centrais do país, mas ainda há muito a ser transformado, sobretudo quando se trata de trabalhadoras negras, que tendem a ganhar uma remuneração menor ainda -cerca de 35% do rendimento médio de homens brancos.
A diferença na folha de pagamento é, muitas vezes, justificada pela licença maternidade ou pela noção de que o ciclo menstrual afeta a produtividade – como se passar por dias ruins ou menos produtivos fosse exclusividade do gênero feminino. O jornalista José Roberto de Toledo desmistifica o assunto ao afirmar que, caso a maternidade realmente fosse o motivo da baixa remuneração, as mulheres receberiam apenas 5% a menos em comparação com o salário médio masculino, o que corresponde aos “gastos” da empresa com a contratada-mãe.
Tais razões dificultam mais ainda a permanência no mercado de mulheres que escolhem serem mães e trabalhadoras, dado que não há espaço para alguém que precisa dividir o seu dia em três atividades distintas. Além disso, normalmente, as tarefas do lar não possuem uma divisão igualitária, também, os homens saem na frente por serem considerados “livres” de uma vida pessoal cheia de imprevistos, visitas aos consultórios médicos ou reuniões escolares.
As mulheres no mercado de trabalho são avaliadas mais por questões pessoais do que por competências e conhecimentos que são úteis para exercer sua profissão. Caso a sua área de atuação for classificada como “trabalho de homem” as barreiras encontradas na vida profissional aumentam, já que a mulher deve provar seu potencial ainda mais quando colocada à prova em um ambiente dominado por homens.
A desigualdade de gênero é incontestável, especialmente quando ela se faz presente em dois dos principais contextos da vida em sociedade, que se relacionam e se sustentam. Enquanto o papel imposto de mãe e dona de casa não der espaço ao de mulher livre, que escolhe seu futuro levando em consideração seus desejos e bem-estar – e é devidamente reconhecida pela sua competência – estaremos muito longe de erradicar essa diferença institucionalizada.
Por Simone Evangelista, graduanda em Psicologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie e consultora externa na RH Junior Consultoria