Com o aprofundamento internacional da integração econômica, política, social e cultural, desde meados da década de 80, as diferentes realidades das empresas em todo o mundo sofreram transformações com o aumento incessante da concorrência, fazendo com que, a força denominada Concorrentes por Michael Porter, em seu modelo das 5 forças para analisar o ambiente externo das empresas, pressionasse a rentabilidade de cada setor da economia mundial. Com isso, a diferenciação em relação ao mercado se tornou cada vez mais importante para a conquista da fidelidade do cliente e, por isso, as empresas vêm buscando meios de gerar vantagens competitivas temporárias ou, nas melhores hipóteses, duradouras, as quais são denominadas “sustentáveis”.
Segundo Jay B. Barney e William S. Hesterly, em seu livro “Administração Estratégica e Vantagem Competitiva”, é possível gerar vantagem competitiva seguindo um modelo de desempenho voltado para os recursos, competências e atividades controlados por uma empresa: o modelo VBR. Tal modelo parte do pressuposto da heterogeneidade e imobilidade dos recursos controlados por diferentes empresas. Deste modo, a partir da análise interna de uma empresa, pode-se constatar quais são os aspectos internos em que ela apresenta desvantagem, paridade ou até mesmo vantagem competitiva. Conforme o modelo VBR, para se obter vantagem competitiva sustentável é necessário que a empresa controle recursos valiosos e raros para seu setor, isto é, poucos players disponham de tal recurso importante, recursos de difícil imitação ou substituição e a empresa esteja organizada para explorá-lo da melhor forma possível.
Os recursos são classificados em financeiros, físicos, humanos e organizacionais. Muitas empresas concentram seus esforços em obter recursos financeiros e físicos, como lojas em locais de concentração de pessoas ou um caixa elevado. Entretanto, as que têm maiores chances de se destacar no mercado por longos períodos de tempo são as que controlam recursos humanos valiosos, como, por exemplo, a Southwest Airlines, que é a única companhia aérea estadunidense que manteve sua lucratividade nos últimos 30 anos. Qual seria a justificativa? Segundo Barney e Hesterly, os fatores decisivos foram suas escolhas operacionais e a filosofia adotada para administrar seu pessoal.
Evandro L. Armelin, diretor de Tecnologia da Everis Consultoria, defende que os recursos humanos são valiosos em todos os setores porque “a criação do valor está diretamente ligada às capacidades, motivação e criatividade das pessoas”, já que a inovação dos produtos e serviços é feita por pessoas, e não por máquinas, e o sucesso das empresas não depende dos processos em si, mas sim das pessoas que são responsáveis por sua elaboração, implementação e execução.
Os recursos humanos são difíceis de ser imitados ou substituídos, uma vez que tendem a gerar recursos e capacidades socialmente complexos, ou seja, produzem fenômenos sociais que extrapolam a habilidade das empresas de entender e gerenciar e, então, a tentativa de influenciar esses tipos de fenômenos, por parte da concorrência, seria muito custosa. Um estudo realizado por um grupo de pesquisadores do Massachussets Institute of Technology (MIT), a respeito da produção eficiente com baixo custo no setor automobilístico mundial, observou que apenas 6 fábricas dentre as 70 fábricas analisadas apresentavam baixos custos e alta qualidade de produção, mesmo que outras empresas, menos eficientes, também possuíssem a mesma tecnologia. Após tentar entender o motivo de tal distinção, os responsáveis pelo estudo concluiram que a fonte da vantagem competitiva eram suas práticas em recursos humanos, como a tomada de decisão participativa e a ênfase no trabalho em equipe, que geravam alta lealdade e compromisso dos funcionários para com a fábrica e elevada confiança nos gerentes.
Vale lembrar que, conforme o modelo VBR, a responsabilidade de criar e explorar capacidades e recursos valiosos, raros e custosos de imitar é de toda a empresa. Deste modo, no caso dos recursos humanos, Evandro Armelin defende que “O principal responsável por manter um recurso da minha área motivada e em constante desenvolvimento sou eu, que tenho o contato direto e constante com as pessoas, sendo a área de RH um suporte para determinar as diretrizes da gestão de pessoas”.
Portanto, uma eficiente fonte de vantagem competitiva sustentável é a exploração dos recursos humanos de uma empresa, por meio de políticas voltadas para a gestão de pessoas, a fim de gerar maior comprometimento e lealdade dos funcionários. Para isso, é necessário criar uma cultura de gestão de pessoas, que deve ser assegurada por todos os membros da empresa. Apesar de difícil, a criação desta cultura ocasionaria vantagem competitiva sustentável para a empresa, garantindo-lhe resultados durante um longo período de tempo.
Por Tiago Costa, graduando em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas e consultor da RH Junior Consultoria