Durante muito tempo, o trabalho desempenhou um papel central na vida dos indivíduos. Era visto como um determinador de sucesso e aquele que se dedicava completamente a ele era honrado. Hoje, o trabalho envolve uma reflexão sobre propósito e uma valorização do equilíbrio com a vida pessoal dos trabalhadores, que passam a valorizar flexibilidade e desenvolvimento. A importância do sentido do trabalho se torna mais notória, entretanto, poucos veem sentido em suas carreiras. Isso afeta diretamente a saúde mental desses e o desempenho das empresas, que nem sempre sabem como lidar com esse desafio.
Com a dificuldade em enxergar sentido no trabalho, tendências como quiet quitting e acting your wage afetam as empresas. Elas se referem a atitudes de total desmotivação com o trabalho que fazem com que o indivíduo fuja de suas tarefas ou faça o mínimo que puder para completa-las. Essa situação tem grave consequências para as organizações. Um estudo da consultoria de gestão Bain & Company destaca que um trabalhador que se sente desmotivado pode ser 125%menos produtivo. Segundo a Gallup, nos Estados unidos, 61% deles já se sentem assim. Mas o que leva à perda de sentido e o que ela pode gerar?
A perda de sentido: causas
A pandemia contribuiu para esse cenário. Com o trabalho no home office, as fronteiras entre trabalho e descanso foram desfeitas, gerando uma sobrecarga desmotivadora. Também, os gestores perceberam que os funcionários se desviavam facilmente do trabalho usando a internet para outros fins, comportamento conhecido como cyberloafing. Esse desvio do trabalho afeta a conexão com ele, e, logo, pode causar desmotivação.
Todavia, o pouco engajamento não é uma atitude recente, por isso, profissionais estudam mais a fundo suas causas. Segundo a coordenadora do curso de Administração da Faculdade Anhanguera, Mariana Duarte Cardoso, gestões em formato vertical e empregadores que não sabem como reter talentos são fatores da organização que podem gerar esse fenômeno. Mas também, frustrações e expectativas não alcançadas pelo trabalhador são outras razões de desmotivação.
A perda de sentido: consequências para a empresa
Como visto, funcionários desmotivados são menos produtivos e dificultam a entrega de valor da empresa, fazendo com ela desempenhe pior. Também, tarefas mal feitas aumentam a quantidade de erros e gastos, gerando uma insatisfação por parte dos interessados na empresa e a diminuição do faturamento. Sua imagem também é afetada, pois ela não será vista como um bom lugar para se trabalhar. Além disso, os funcionários que não veem sentido no seu trabalho não procuram trazer inovações para a empresa, logo ela entra em uma tendência de estagnação.
Entendendo-se a importância do sentido, torna-se urgente, para os gestores, a busca por atitudes que revertam a situação de desmotivação.
Ações
Garantir que a empresa tenha empregados motivados começa na contratação. É importante dar atenção ao processo seletivo ou recrutamento para que os contratados se sintam alinhados com os valores da empresa. Funcionários que se identificam com o propósito da organização se sentirão mais motivados a alcançar seus objetivos. Logo, é importante que ela tenha um posicionamento claro e que tenha um EVP (employee value proposition) atraente. Também, cabe à área de Recursos Humanos que se atenha a garantir que a empresa aja de acordo com o que propõe a fim de que essa relação de alinhamento de objetivos empresariais e pessoais dos funcionários se mantenha.
As companhias também devem entender as pessoas como o centro da estratégia, afinal, uma organização é, em uma de suas definições, um conjunto de pessoas com o mesmo objetivo. Um contato mais humanizado com o colaborador é fundamental. Após a contratação, deve-se garantir que, durante a jornada, o trabalhador se sinta confortável com o trabalho. Nesse sentido, o gestor deve se esforçar para engajar os líderes a criarem um espaço confortável na empresa, onde os funcionários possam falar sobre suas vulnerabilidades abertamente, contribuindo para a manutenção do clima organizacional.
Outra ação consiste em estimular o trabalhador por meio de seu desenvolvimento no plano de carreiras da organização. Segundo Rafael Souto, presidente da Produtive, consultoria de planejamento e transição de carreira, deve-se estabelecer uma “cultura de protagonismo” nas empresas. Por isso, elas devem ter organogramas bem estruturados, com cargos e funções bem definidos, dando espaço para planos de carreira e planos de desenvolvimento individuais. Diferente de antigamente, hoje preza-se pela criação de planos junto ao trabalhador, e não caminhos de evolução já definidos pela empresa, o que ressalta novamente a importância de ter um contato próximo com esse.
Sendo assim, apesar de os efeitos da perda de sentido do trabalho serem recorrentes e desafiadores para as empresas, há soluções. Um olhar mais atento para o colaborador pode prever que tendências de desmotivação se instalem e a empresa não performe como desejado. As atitudes consolidadas pelos planos de ação garantirão seu melhor desempenho e uma melhor saúde mental dos seus membros.